Thursday, January 28, 2016

O Jantar

"De repente ei- lo a estremecer todo, levando o guardanapo aos olhos e apertando-os numa brutalidade que me enleva... Abandono com certa decisão o garfo no prato, eu próprio com um aperto insuportável na garganta, furioso, quebrado em submissão." (O jantar, Clarice Lispector, 49) Clarice Lispector usa um narrador-personagem homodiegético para narrar seu conto O jantar. Por usar um narrador homodiegético, Lispector cria um conto que é como se fosse ao vivo. O narrador homodiegético não sabe o que vai acontecer no conto, então não tem como dar dicas do futuro. Além disso, o narrador homodiegético inclui suas reações aos acontecimentos do conto. A gente pode ver uma reação aqui, em como o narrador deixa o garfo dele por causa de assistir o outro homem comer. Assim, os sentimentos e palavras parecem ser mais elevados, mais extremos. Uma coisa mais interessante de ter um narrador-personagem é que o leitor só recebe as impressões do narrador dos outros personagens. O leitor lê sem saber os motivos das ações dos personagens, sem saber o porquê delas fazerem o que estão fazendo. Junto com esta frieza para os outros personagens, o leitor recebe uma visão mais clara do narrador, e começa a entender seus motivos, suas ações. Por causa da intimidade do narrador com o leitor, por contar seus próprios sentimentos e reações, o leitor entende a personalidade do narrador. Esta franqueza com o leitor faz possível o leitor ver o conto pelos olhos do narrador, como se fizesse parte do conto.

Thursday, January 21, 2016

O Poder dos Livros

"Duarte acompanhou a major até a porta, respirou ainda uma vez, apalpou-se, foi até a janela. Ignora-se o que pensou durante os primeiros minutos; mas, ao cabo de um quarto de hora, eis o que ele dizia consigo:- Ninfa, doce amiga, fantasia inquieta e fértil, tu me salvaste de uma ruim peça com um sonho original, substituíste-me o tédio por um pesadelo: foi um bom negócio. Um bom negócio e uma grave lição: provaste-me ainda uma vez que o melhor drama está no espectador e não no palco." (A chinela turca, Machado de Assis, 38) Neste conto sobre uma visita noturna Machado de Assis mostra o poder de um bom livro. Por causa do livro que Lopo Alvez deu para Duarte ler, Duarte viaja para dentro da história, como se ele fosse a personagem principal de tal livro. Assim Machado mostrou como um livro, bem escrito, vive na imaginação fértil do leitor. Se o livro de Lopo Alves não fosse bom, Duarte nem terei tido mais vontade de continuar a leitura, mas por causa do jeito que o escritor pegou ele, pareceu para ele que ele mesmo estava vivendo o que lia. Este é o sentimento de um leitor se perder num livro. Este conto me lembrou do livro Inkheart, em que uma das personagens principais tem o poder de fazer as personagens dum livro sair quando for ler o livro em voz alta. Isso faz com que as personagens, sem entrar no livro, vivem o conto. Este livro, como A chinela turca, mostra os problemas, os perigos, e a aventura de ler um livro.

Thursday, January 14, 2016

O Enfermeiro

"Os anos foram andando, a memória tornou-se cinzenta e desmaiada. Penso às vezes no coronel, mas sem os terrores dos primeiros dias. Todos os médicos a quem contei as moléstias dele, foram acordes em que a morte era certa, e só se admiravam de ter resistido tanto tempo. Pode ser que eu, involuntariamente, exagerasse a descrição que então lhes fiz; mas a verdade é que ele deveria morrer, ainda que não fosse aquela fatalidade..." (Machado de Assis, O Enfermeiro, 25-26) Aqui vemos o final da história do enfermeiro; ele se tornou um homem duro, e esquecido. Depois de ter matado o coronel, ele recebeu toda a herança dele. Depois de doar uma parte da herança, ele ficou com o resto. Depois de ter aceitado os elogios da vila por ficado lá, por ter sido o único amigo do coronel, o enfermeiro deixou essa tênia moral crescer dentro dele. Ele não se ligava mais com o que era o certo ou o errado, mas com o que era apropriado para o momento e ocasião. Assim, na verdade, eu vejo que o enfermeiro se tornou um pouco como o coronel chato que ele tinha matado. Justamente como um livro que eu amo ler, onde o personagem principal se torna uma pessoa mais dura para meter justiça aos que maltrataram ele do que eles mesmos eram, o enfermeiro se tornou uma pessoa mais dura e imoral que o coronel. Esse livro que eu amo é O Conde de Monte Cristo. O conde, um homem justo, diligente, mas sem educação perde a vida dele por causa dos desejos injustos das outras pessoas. Essas pessoas combinam para destruir ele, para poderem ter o que elas querem da vida. Mas quando esse homem volta com muito dinheiro e influência, ele mete a justiça às pessoas injustas que injuriaram ele. Assim o conde se torna uma pessoa em cima da lei, que tem um código moral diferente que as outras pessoas. Da mesma forma, eu vejo o enfermeiro ter se tornado uma pessoa indiferente às injustiças e códigos morais da sociedade.

Thursday, January 7, 2016

A Cartomante

"Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento: limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando." (Machado de Assis, "A Cartomante", 15)

Bem vemos aqui um homem descontente com as crença que tinha aprendido como criança. Assim aprendemos quem que é Camilo, e porque que ele age como age. Camilo deixou para trás todas as crenças dele, e queria procurar uma vida por si. Ele estava sempre rindo, um sinal de que ele achava da vida uma brincadeira. Vemos ele como uma pessoa leve, sem laços ao passado por vontade própria. Ele vivia a vida por momento em momento, e não à procura de uma coisa ou outra. Por isso podemos ver ao correr da história "A Cartomante" como Camilo foi levado a amar uma mulher quem ele resistia, mas que subjugou ele, e fez dele um atordoado. Camilo resistia à Rita porque era o jeito dele. Por deixar todas as crenças para trás, e fazer da vida uma brincadeira, ele era um homem livre, o clássico solteiro contente.

Assim vemos também como o amor muda as pessoas. Num livro que estava lendo recentemente, chamado "Os Quatro Amores" por C.S. Lewis, o autor descreve como o amor, que ele chama de Vênus, depois de entrar na vida de uma pessoa, começa a reorganizar a pessoa. As coisas que não eram importantes agora são, e o que era mais importante se torna algo insignificante. Nós vemos isso acontecer perfeitamente neste livro; um homem sem laço se apaixona por uma mulher, e logo vê que ela é tudo para ele. Depois ele vê que as crenças que tinha deixado voltam à sua vida, para saber o que ia acontecer com a mulher por quem ficou apaixonado. Assim ele se torna, em parte, o que era antes, e vemos que a vida dele é reorganizada por causa do amor que tem por esta mulher.